A gestão de riscos é uma competência cada vez exigida pelas organizações e solicitada pelas partes interessadas.

Ter esta competência na organização e nas pessoas é essencial para continuidade e perpetuidade das organizações.

É de extrema importância que as organizações conheçam seus perigos, os cenários envolvidos nestes perigos, os riscos destes cenários, as medidas de controle necessárias e os monitoramentos necessários para que estes riscos não de materializem em perdas.

Nosso principal objetivo é a eliminação dos riscos ou torná-los a níveis aceitáveis.

No mercado existem diversas ferramentas que utilizamos para conhecer e avaliar a grandeza dos riscos organizacionais.

Uma ótima referência que temos no mercado é a aplicação das normas série 31000:

  • Gestão de riscos – princípios e diretrizes – ABNT NBR ISO 31000;
  • Gestão de riscos – guia para implementação da ABNT NBR ISO 31000 – ABNT NBR ISO/TR 31004;
  • Gestão de riscos – técnicas para o processo de avaliação de riscos – ABNT NBR ISO/IEC 31010

Gerenciamento de Riscos de Processos

Dentro do processo de gestão de riscos existe, em particular, uma preocupação muito forte com os riscos de processos. Imagine uma planta química, enquanto a Engenharia de Segurança se preocupa com a queda dos trabalhadores ou das ferramentas, a Segurança de Processo se preocupa com o que pode acontecer se a pressão subir ou quem sabe se a temperatura diminuir.

Ou seja, neste momento estamos preocupados com os efeitos das possíveis alterações das variáveis do processo. Este tipo de preocupação é muito latente nas indústrias químicas, onde existem vários processos químicos.

Sabemos que a ocorrência de desastres não pode ser antecipada facilmente, mas o desafio é identificar e anular as condições que provocam acidentes. Essa abstração não é muito fácil. As análises de risco e identificação de cenários, por exemplo, são apenas os primeiros passos dessa atividade. A metodologia que definimos com o nome de Garantia de Integridade das Barreiras de Segurança de Processo é menos teórica do que a determinação dos níveis de integridade de segurança – SIL de uma planta industrial. Sendo por isso desenvolvida e escolhida por nós como importante e estratégica. Desde 2006 estamos aplicando a ferramenta para retratar a situação da gestão de riscos e integridade dos sistemas de segurança como também para definir estratégias de melhoria.

A estratégia e metodologia passam pelo processo de Identificação dos cenários de riscos e suas respectivas barreiras, para em seguida ir ao campo verificar o estado das barreiras de segurança preventivas que impedirão a ocorrência dos acidentes e as mitigadoras que minimizam as consequências do acidente de processo.

As técnicas de Análise Preliminar de Perigos – APP, Estudo de Perigos e Operabilidade – Hazop, Gráfico de Risco e a LayerofProtectionAnalysis – Lopa continuam indispensáveis para identificar os riscos da planta. As três primeiras fazem apenas uma avaliação qualitativa dos riscos, enquanto a Lopa é uma técnica semi-quantitativa, na qual a frequência de acidente é determinada quantitativamente e as consequências apenas qualitativamente. As metodologias de APP e Hazop já são conhecidas de longa data, enquanto as duas últimas tornaram-se mais populares por conta da norma IEC 61508 na especificação do Nível de Integridade de Segurança – SIL dos sistemas instrumentados de segurança. Isso porque, para se determinar qual é o SIL necessário para uma função de segurança, a norma pede que seja realizada uma análise de riscos – basicamente, o SIL é um índice que representa o nível de confiabilidade requerido para que uma função de segurança reduza o risco a níveis considerados aceitáveis pela empresa.

Como podemos gerenciar os Riscos de Processos

A indústria química fabrica uma gama muito grande de produtos e matérias-primas para uma grande variedade de setores industriais. Muitos destes produtos possuem um potencial de causar um acidente muito grande.

Nos últimos anos houve um avanço importante na tecnologia de processo químico, que, aliado a utilização de um maior número de substâncias hoje demandam um maior controle sobre as rotinas operacionais, bem como em relação a própria segurança de processo, cada vez mais complexos, conduzindo a necessidade de utilização de sistema de gestão de riscos de processos.

As tecnologias químicas mais complexas nos remetem a processos com elevadas pressões, temperaturas, produtos químicos mais reativos e reações químicas mais perigosas.

Muitos executivos desconhecem os perigos e riscos oriundos de processos químicos, relegando eles a meros assuntos rápidos em reuniões de produção.

Um acidente de processo é um evento que deve ser analisado profundamente pois tem muitos aprendizados envolvidos. Seu potencial de perda é elevado e deve ser motivo de preocupação constante das lideranças corporativas.

A melhor forma de realizarmos a gestão dos riscos de processo é por meio de um modelo de gestão. Existem diversos modelos para a gestão dos riscos ocupacionais. Já para os riscos de processo temos um excelente modelo no mercado desenvolvido pelo “American InstituteofChemicalEngineers” por meio do “Center for ChemicalProcessSafety (CCPS)”.

Este centro desenvolveu o modelo de gestão “RiskBasedProcessSafety (RBPS)” que pode ser aplicado para a gestão dos riscos de processo de uma corporação.

Este modelo se baseia em 4 pilares:

  1. Comprometimento com segurança de processo;
  • É o alicerce da excelência em Segurança de Processo;
  • As organizações não evoluem sem uma liderança forte e com um comprometimento sólido;
  • Uma força de trabalho que está convencida de que a organização apoia integralmente a segurança como um valor essencial tenderá a fazer as coisas certas, de modo adequado, no momento certo.
  1. Conhecimento dos perigos e riscos;
  • A base de uma abordagem baseada em risco. Uma organização pode usar esta informação para alocar recursos limitados na maneira eficaz;
  • Para entender os perigos e riscos, as instalações devem concentrar – se em:
  • Recolhimento, documentação e manutenção do conhecimento da segurança de processo;
  • Realização de estudos de identificação de perigos e análise de riscos.
  1. Gerenciamento do risco;
  • Operar e manter com prudência os processos que oferecem risco;
  • Gerenciar mudanças nos processos para assegurar que o risco permanece tolerável;
  • Preparar-se para responder e gerenciar os incidentes que ocorrerem;
  • O gerenciamento de riscos auxilia a empresa ou unidade a implantar sistemas de gestão que ajudam a manter as operações a longo prazo livres de incidentes e lucrativas.
  1. Aprendizagem com a experiência.
  • Envolve monitorar e atuar sobre informações de fontes internas e externas;
  • Maneiras de aprender com a experiência:
  • Aplicar as melhores práticas para fazer o melhor uso dos recursos disponíveis;
  • Corrigir as deficiências expostas pelos incidentes internos e “quase acidentes” e;
  • Aplicar lições aprendidas com outras organizações.

Estes pilares são compostos por 20 elementos de gestão que englobam todas as ações necessárias para a gestão dos riscos de processos:

Comprometimento com segurança de processo

  1. Cultura de Segurança de Processo;
  2. Conformidade com Padrões;
  3. Competência em Segurança de Processo;
  4. Participação da Força de Trabalho;
  5. Comunicação com as Partes Interessadas;

Conhecimento dos perigos e riscos

  1. Gestão do Conhecimento de Processo;
  2. Identificação de Perigos e Análise de Risco;

Gerenciamento do risco

  1. Procedimentos Operacionais;
  2. Práticas de Trabalho Seguro;
  3. Integridade de Ativos e Confiabilidade;
  4. Gestão da Contratada;
  5. Garantia de Desempenho e Treinamento;
  6. Gestão de Mudança;
  7. Prontidão Operacional;
  8. Condução das Operações;
  9. Gestão de Emergências;

Aprendizagem com a experiência.

  1. Investigação de Incidente;
  2. Medição e Métrica;
  3. Auditoria;
  4. Análise da Gestão e Melhoria Contínua.

Percebemos que existem 20 elementos atuando no sistema de gestão que, na prática, abrangem os principais riscos ou possibilidades de causas em acidentes de processo.

Para este modelo de gestão ser eficiente é preciso uma forte participação da direção da organização, pois são necessárias muitas demandas e recursos financeiros que necessitam de investimento.

Por meio deste modelo de gestão muitas empresas já alcançaram bons resultados em gestão de segurança de processos e, melhor que isso, mantém seus riscos sob controle e em níveis aceitáveis, perpetuando seus negócios.

Junto com a aplicação deste modelo de gestão, sugerimos a aplicação do que chamamos de “Auditoria de Barreiras”.

Contempla a auditoria da integridade das barreiras com verificação em campo e através dos documentos que atestam a busca da preservação da confiabilidade das barreiras de segurança. Levantam-se os cenários de riscos com base nas análises de risco existentes na organização e analisa-se como a unidade gerencia a confiabilidade de forma que se garanta que cada cenário não venha a ocorrer. As barreiras existentes contra esses perigos que podem ser desde um procedimento até um sistema instrumentado de segurança são identificadas nessa análise. A partir daí, realiza-se auditorias de campo, auditando essas barreiras.

Por: Cássio Garcia